As biopolíticas dos dispositivos intrauterinos no Brasil : testagens e negociações acerca de usuárias do Sul global (1960-2004)

Abstract

Os dispositivos intrauterinos são métodos contraceptivos politicamente versáteis que são configurados por redes e relações sociais as quais continuamente re-configuram usuárias, dispositivos, desenvolvedores e matéria. Nessa investigação dispus primordialmente da metodologia etnografia de documentos, juntamente com outras técnicas de pesquisa, para rastrear uma resposta à pergunta: que disputas biopolíticas permearam as restrições e recomendações de e para usuárias de dispositivos intrauterinos no Brasil, na segunda metade do século XX? Minha análise ancora-se nos Estudos Sociais da Ciência e Tecnologia na interface com os estudos sobre gênero e sexualidade. No decorrer das páginas eu conecto usuárias, não-usuárias, objetos, testes clínicos, fluidos corporais, biotérios e textos. Busquei dissertar sobre o trabalho do médico e pesquisador Amaury Teixeira Leite Andrade como um personagem relevante no trânsito entre redes globais e locais do desenvolvimento biopolítico de tecnologias e usuárias, e distribuição dos dispositivos intrauterinos, da década de 1960 até cerca de 2004. Já nas disputas biopolíticas globais, o imaginário da usuária projetada sempre esteve presente nos processos de desenvolvimento dos dispositivos intrauterinos e isso influenciou na materialidade de epistemologias em pequenos objetos feitos com plástico. Por fim, sugiro que as disputas históricas em torno do DIU no Brasil continuam a afetar a maneira pela qual, muitas vezes, mulheres e profissionais de saúde concebem este método contraceptivo.

Intrauterine devices are politically versatile contraceptive methods that are configured by social networks and relations that continually reconfigure users, devices, developers, and material. In this investigation, I primarily used the methodology of document ethnography, along with other research techniques, to trace an answer to the question: what biopolitical disputes permeated the restrictions and recommendations of and for users of intrauterine devices in Brazil in the second half of the 20th century? My analysis is anchored in the Social Studies of Science and Technology at the interface with studies on gender and sexuality. Throughout the pages, I connect users, non-users, objects, clinical trials, bodily fluids, animal facilities, and texts. I sought to discuss the work of physician and researcher Amaury Teixeira Leite Andrade as a relevant character in the transition between global and local networks of biopolitical development of technologies and users, and distribution of intrauterine devices, from the 1960s until around 2004. In global biopolitical disputes, the imaginary of the projected user was always present in the development processes of intrauterine devices and this influenced the materiality of epistemologies in small objects made of plastic. Finally, I suggest that the historical disputes surrounding the IUD in Brazil continue to affect the way in which women and health professionals often conceive of this contraceptive method.