As mulheres que não foram amadas pelos homens : os vestígios da violência de gênero na obra Insubmissas Lágrimas de Mulheres, de Conceição Evaristo

Abstract

A violência de gênero configura-se como um dos problemas sociais mais graves da contemporaneidade, refletindo desigualdades estruturais que atravessam cor da pele, classes sociais e territórios. Esse fenômeno não se limita ao contexto brasileiro nem à violência física, mas engloba também dimensões psicológicas, patrimoniais, sexuais, digitais e simbólicas. Nesse contexto, a literatura contemporânea escrita por mulheres emerge como um espaço de denúncia, reflexão e resistência, e escritoras como Conceição Evaristo, por meio da escrevivência, revelam as experiências de mulheres negras, lançando luz sobre a interseccionalidade entre gênero, raça e classe, bem como suas opressões. Tendo isso em vista, esta pesquisa propõe uma análise crítica da obra Insubmissas Lágrimas de Mulheres, investigando como Conceição Evaristo apresenta a violência de gênero na sua escrita e verificando de que maneira sua escrevivência dá voz às mulheres marginalizadas. Parte-se da hipótese de que os episódios de violência narrados ao longo dos contos são vestígios, conforme conceituação de Jacques Rancière (2018), da realidade brasileira, de modo que as experiências apresentadas na obra configuram-se como testemunhos de mulheres negras, que até os dias de hoje são silenciadas, ocupando o lugar de o Outro do outro (KILOMBA, 2019). Nesse sentido, ao explorar essas questões, o estudo busca contribuir para a compreensão da literatura escrita por mulheres como um instrumento de transformação social, evidenciando sua potência como meio de resistência e denúncia da violência de gênero no Brasil.

Gender-based violence stands as one of the most serious social issues of contemporary times, reflecting structural inequalities that intersect with skin color, social classes, and geographic territories. This phenomenon is not limited to the Brazilian context nor to physical violence alone, but also encompasses psychological, financial, sexual, digital, and symbolic dimensions. In this context, contemporary literature written by women emerges as a space for denunciation, reflection, and resistance. Writers such as Conceição Evaristo, through the concept of escrevivência (writing from lived experience), reveal the experiences of Black women, shedding light on the intersectionality of gender, race, and class, as well as the oppressions that arise from it. With this in mind, this research proposes a critical analysis of the work Insubmissas Lágrimas de Mulheres (Insubmissive Tears of Women), investigating how Conceição Evaristo presents gender-based violence in her writing and examining how her escrevivência gives voice to marginalized women. The study starts from the hypothesis that the episodes of violence narrated throughout the short stories are traces—according to Jacques Rancière’s (2018) conceptualization—of Brazilian reality, such that the experiences presented in the work function as testimonies of Black women who, to this day, remain silenced, occupying the place of the Other of the other (KILOMBA, 2019). In this sense, by exploring these issues, the study seeks to contribute to the understanding of literature written by women as an instrument of social transformation, highlighting its potential as a means of resistance and denunciation of gender-based violence in Brazil.