O Quilombo Família de Ouro e o fazer gente para a vida : revitalizações e incorporações para a luta, quando o rio é oxum
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Data
2025Orientador
Co-orientador
Nível acadêmico
Doutorado
Tipo
Assunto
Resumo
Esta pesquisa propõe levar a sério a discussão contracolonial e os modos de compor mundos fazendo gentes para relações complexas instituídas pelo contato colonizador. Buscamos a valorização da memória e do conhecimento tradicional quilombola, entendendo que a memória, muitas vezes desqualificada como mito pela visão ocidental, é fundamental para compreender a história e a cosmovisão dos povos que (r)existem em diversos contextos sociais, inclusive no espaço urbano. As histórias do quilombo urba ...
Esta pesquisa propõe levar a sério a discussão contracolonial e os modos de compor mundos fazendo gentes para relações complexas instituídas pelo contato colonizador. Buscamos a valorização da memória e do conhecimento tradicional quilombola, entendendo que a memória, muitas vezes desqualificada como mito pela visão ocidental, é fundamental para compreender a história e a cosmovisão dos povos que (r)existem em diversos contextos sociais, inclusive no espaço urbano. As histórias do quilombo urbano Família de Ouro, localizado na Lomba do Pinheiro, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, são compreendidas como suficientemente boas, em aliança com linhas de pensamentos contracoloniais, para desacelerar decisões que envolvem a cidade de Porto Alegre e perpetuam processos de modernização e desvitalização dos corpos-territórios. Ressaltamos a importância de preservar e valorizar as memórias expandidas no tempo, que constituem a base para a vida boa, como caminhos revitalizadores que conduzem ao quilombo sempre que necessário. Ao mesmo tempo, criticamos a perspectiva ocidental, que tende a desconsiderar outras formas de conhecimento, promovendo, através da “feitiçaria” do mundo capitalista, processos de apagamento e desvalorização de mundos e territórios quilombolas que identificamos como “engenharia da modernização”. Enfatizamos os modos como a Família de Ouro tece suas relações de composição da luta, preparando os corpos-territórios para enfrentamentos extremamente violentos sem deixar de apostar na beleza, na delicadeza e nas relações de afeto regeneradoras. A liderança quilombola Mãe Patty de Oxum dá seguimento aos ensinamentos legados pela sua família, que são expandidos nos movimentos constantes de incorporação de parentescos desde o chão do território, instituindo configurações da luta social em patamares ontologicamente diferentes dos convencionais para o entendimento ocidental. A manifestação da energia vital cultivada pelo quilombo anima seres vivos e não vivos, perturbando a lógica ocidental de organização da vida e amplificando o campo da (r)existência. A compreensão do rio como um ente que participa das relações de parentescos exige comprometimento e relações de cuidados com o ambiente não necessariamente entendidas pelo mundo ocidental. Como questão de partida, busca-se compreender como a “bio-geo-grafia” elaborada pelas memórias quilombolas cria outros modos de fazer pensar, agir, marcar e grafar o território e como se dão as relações de disputa e composição da cidade, propondo um exercício imaginativo com as seguintes suposições: E se os quilombolas fossem convidados à mesa de negociação das decisões que impactam suas vidas nos espaços urbanos? E se fossem escutados e pudessem narrar oficialmente sua cosmovisão de mundo? E se isso fosse levado a sério para as tomadas de decisão na cidade? As comunidades quilombolas elaboram sofisticadas formas de viver mesmo em situações arruinadas pelo mundo capitalista. Este trabalho tentou se aproximar metodologicamente dessas estratégias, narrando a história de Porto Alegre considerando tais existências. Para tanto, foi de fundamental importância: a ativação da escuta e da atenção com as artes da atentividade para compor com múltiplas perspectivas, o esforço metodológico de etnografar de modo não clássico, numa perspectiva de fazer-pensar-com as pessoas, e o exercício poético comprometido com a sensibilidade que promove vidas por meio da “escrevivência”. ...
Abstract
This research proposes to take seriously the countercolonial discussion and the ways of composing worlds by making people into complex relationships established by colonizing contact. We seek to value memory and traditional quilombola knowledge, understanding that memory, often dismissed as a myth by the Western view, is fundamental to understanding the history and worldview of people who (r)exist in different social contexts, including urban space. The stories of the urban quilombo Família de ...
This research proposes to take seriously the countercolonial discussion and the ways of composing worlds by making people into complex relationships established by colonizing contact. We seek to value memory and traditional quilombola knowledge, understanding that memory, often dismissed as a myth by the Western view, is fundamental to understanding the history and worldview of people who (r)exist in different social contexts, including urban space. The stories of the urban quilombo Família de Ouro, located in Lomba do Pinheiro, in Porto Alegre, Rio Grande do Sul, are understood as good enough, in alliance with lines of countercolonial thoughts, to slow down decisions that involve the city of Porto Alegre and perpetuate processes of modernization and devitalization of bodies-territories. We emphasize the importance of preserving and valuing memories expanded over time, which constitute the basis for a good life, as revitalizing paths that lead to quilombo whenever necessary. At the same time, we criticize the Western perspective, which tends to disregard other forms of knowledge, promoting, through the “sorcery” of the capitalist world, processes of erasure and devaluation of quilombola worlds and territories that we identify as “modernization engineering”. We emphasize the ways in which the Família de Ouro weaves its compositional relationships in the fight, preparing the bodies-territories for extremely violent confrontations without ceasing to focus on beauty, delicacy and regenerating relationships of affection. The quilombola leader Mãe Patty de Oxum continues the teachings bequeathed by her family, which are expanded in the constant movements of incorporating kinships from the ground up in the territory, instituting configurations of social struggle at levels ontologically different from those conventional to Western understanding. The manifestation of vital energy cultivated by the quilombo animates living and non-living beings, disturbing the Western logic of organizing life and amplifying the field of (r)existence. Understanding the river as an entity that participates in kinship relationships requires commitment and relationships of care with the environment that are not necessarily understood by the Western world. As a starting point, we seek to understand how the “bio-geo-graphy” elaborated by quilombola memories creates other ways of making people think, act, mark and graph the territory and how the relations of dispute and composition of the city occur, proposing an imaginative exercise with the following assumptions: What if quilombolas were invited to the negotiation table for decisions that impact their lives in urban spaces? What if they were listened to and could officially narrate their worldview? What if this was taken seriously in decision-making in the city? Quilombola communities develop sophisticated ways of living even in situations ruined by the capitalist world. This work tried to approach these strategies methodologically, narrating the history of Porto Alegre considering such existences. To this end, it was of fundamental importance: the activation of listening and attention with the arts of attentiveness to compose with multiple perspectives, the methodological effort of ethnography in a non-classical way, from a perspective of making-think-with people, and the exercise poetic committed to the sensitivity that promotes lives through “writing”. ...
Instituição
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Faculdade de Ciências Econômicas. Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural.
Coleções
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Multidisciplinar (2630)Desenvolvimento Rural (547)
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