Associação entre experiências de discriminações e comportamento alimentar em estudantes universitários

Abstract

Introdução: a discriminação refere-se ao tratamento injusto, desigual e prejudicial de indivíduos ou grupos com base em características específicas, a discriminação viola os princípios fundamentais dos direitos humanos e afeta a saúde dos indivíduos que vivenciam experiencias discriminatórias. Discriminação por raça/cor de pele, identidade de gênero, orientação sexual e peso são algumas dessas discriminações que podem impactar a saúde mental e desencadear comportamentos alimentares desordenados. Objetivo geral: avaliar a associação das diferentes formas de discriminações - incluindo a racial, identidade de gênero, orientação sexual e a relacionada ao peso - e o comportamento alimentar de universitários. Metodologia: trata-se de um estudo transversal com estudantes de graduação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Foi realizado a aplicação de um questionário on-line e autoaplicável que avalia se a discriminação sofrida influencia no comportamento alimentar dos estudantes. Que obteve 1502 respostas. A variável discriminação foi convertida em 16 estratos interseccionais e o comportamento alimentar foi dividido em aproximação e distanciamento com a comida. As análises dos dados foram realizadas utilizando softwares Stata versão 18 e considerado um valor de p inferior a 5% (p<0,05) como estatisticamente significativo. As associações foram avaliadas por meio de regressão linear bruta e ajustada para idade dos participantes. Resultados: identificou-se que as maiores médias de aproximação com a comida foram encontrados em indivíduos que relataram discriminação por peso e orientação sexual (β 9,1 IC95% 5,4 - 12,8) e discriminação por peso e gênero (β 9,1 IC95% 7,0 - 11,2). No entanto, outros estratos também apresentaram associações estatisticamente significativas. Foi observada uma associação positiva entre distanciamento alimentar e a discriminação com base na orientação sexual e no gênero (β = 5,2; IC 95%: 3,0–7,4), enquanto associações negativas foram observadas para discriminação com base no peso e no gênero (β = ˗3,1; IC 95%: ˗5,0 a ˗1,2), no peso e na orientação sexual (β = ˗3,6; IC 95%: ˗6,9 a ˗0,2), e apenas no peso (β = ˗3,7; IC 95%: ˗5,7 a ˗1,7). Conclusão: este é, até onde se tem conhecimento, o primeiro estudo a investigar a associação entre a experiência de diferentes tipos de discriminação e o comportamento alimentar, utilizando estratos interseccionais. Os resultados evidenciam que a discriminação percebida exerce um impacto significativo nos comportamentos alimentares de estudantes universitários. Diante disso, destaca-se a importância de aprofundar esse campo de pesquisa a fim de compreender melhor os mecanismos envolvidos e subsidiar intervenções que promovam estratégicas para enfrentar a discriminação e promover comportamentos alimentares mais saudáveis.

Background: discrimination refers to the unfair, unequal, and harmful treatment of individuals or groups based on specific characteristics. It violates the fundamental principles of human rights and negatively affects the health of those who experience discriminatory situations. Discrimination based on race, gender identity, sexual orientation, and weight are some of the forms that can impact mental health and trigger disordered eating behaviors. Objective: to evaluate the association between different forms of discrimination—including racial, gender identity, sexual orientation, and weight-related discrimination—and eating behavior among university students. Methods: this is a cross-sectional study conducted with undergraduate students from the Federal University of Rio Grande do Sul (UFRGS). An online self-administered questionnaire was applied to evaluate whether experienced discrimination influences students’ eating behavior. A total of 1,502 responses were collected. The discrimination variable was categorized into 16 intersectional strata, and eating behavior was divided into food approach and food avoidance. Data analyses were performed using Stata software, version 18, and a p-value of less than 5% (p < 0.05) was considered statistically significant. Associations were examined using both crude and age-adjusted linear regression models. Results: higher food approach scores were observed among individuals who reported discrimination based on weight and sexual orientation (β 9,1 IC95% 5,4 - 12,8), and weight and gender (β 9,1 IC95% 7,0 - 11,2). A positive association was observed between food avoidance and discrimination based on sexual orientation and gender (β = 5.2; 95% CI: 3.0-7.4), whereas negative associations were observed for discrimination based on weight and gender (β = ˗3.1; 95% CI: ˗5.0 to ˗1.2), weight and sexual orientation (β = ˗3.6; 95% CI: ˗6.9 to ˗0.2), and weight alone (β = ˗3.7; 95% CI: ˗5.7 to ˗1.7). Conclusion: to the best of our knowledge, this is the first study to investigate the association between the experience of different types of discrimination and eating behavior using intersectional stratum. The findings demonstrate that perceived discrimination has a significant impact on the eating behaviors of university students. These results highlight the need for further research in this area to better understand the underlying mechanisms and to support the development of interventions aimed at addressing discrimination and promoting healthier eating behaviors.