Ensinando sobre a pandemia no jornal : Uma análise do Caderno Viver com Saúde durante a covid-19, no ano de 2020

Abstract

Narrativas de doenças permeiam a história, muitas destas por meio de endemias, epidemias e pandemias, trazendo grandes mudanças à sociedade referente ao próprio entendimento dos processos envolvidos no adoecer e permanecer saudável. Por este motivo, pode-se afirmar que a humanidade produz e se interessa por temas relativos à saúde. Isto pôde ser observado durante o contexto infodêmico da covid-19, no qual a mídia recorrentemente produziu e veiculou notícias envolvendo este tema. Compreende-se que os jornais contribuíram de forma decisiva para divulgar e conscientizar os sujeitos a respeito do momento, assim como auxiliaram na construção de sentidos acerca do novo vírus (SARS-CoV-2), mas também quanto ao entendimento da doença e todas as mudanças decorrentes das tentativas de conter a crise sanitária. Partindo da argumentação de Saraí Schmidt (1999) que o jornal atuaria como uma sala de aula, ensinando por meio de sua pedagogia determinadas lições que compõem um currículo, entende-se que o caderno Viver com Saúde, um espaço destinado a temas envolvendo saúde e bem-estar, foi encartado nas segundas-feiras em dois importantes jornais do Grupo Sinos (NH e Diário de Canoas), trazendo, durante o primeiro ano da pandemia, lições e ensinamentos acerca do corpo, da saúde e da doença, representando o momento pandêmico por meio de distintas editorias. Desta forma objetiva-se analisar de que forma o Caderno semanal Viver com Saúde, impresso produzido pelo Grupo Sinos, construiu, didática e pedagogicamente, significados acerca da pandemia da covid-19 e identificar quais destes significados acionados e circulantes integram o currículo cultural do caderno durante o ano de 2020. A partir da lente teórica dos Estudos Culturais em Educação e em Ciências, foi realizada uma análise cultural, inspirada nas regras que compõem uma gramática para analisar a mídia impressa (Rocha, 2012), iniciada na leitura das 44 edições do referido Caderno, na qual foram selecionadas 100 publicações que tratavam direta da covid-19 e estas agrupadas por editorias, possibilitando identificar as recorrências e convergências de assuntos e estratégias pedagógicas. Assim, identificou-se que, além de operar como uma sala de aula, o jornalismo realizado no Caderno assemelha-se ao entendimento do jornal como um consultório, no qual, ao ensinar os leitores quanto às formas de se proteger em emergências sanitárias, também constrói representações sobre o momento pandêmico na região metropolitana de Porto Alegre e Vale do Rio dos Sinos, no Rio Grande do Sul. Destaca-se que cada editoria do suplemento semanal possui seu conjunto de estratégias, instigando o leitor para a sua leitura, informando-o e educando-o por meio de um currículo compartilhado que traz determinados temas que julga serem pertinentes, para que os sujeitos se mantenham saudáveis. Neste ponto, entende-se que este currículo se estrutura por meio das representações e discursos quanto ao corpo saudável, os amplos riscos que envolvem o coronavírus e a complexa rede de cuidados e ações preventivas que este suscitou, desta forma educando em e para a saúde, durante o primeiro ano da pandemia, informando a população maneiras de ser, estar e sobreviver a este momento.

Illness narratives permeate history, many of them through endemics, epidemics and pandemics, and they bring great changes to society regarding the very understanding of the processes involved in getting sick and staying healthy. Therefore, we can say that humanity produces and is interested in health-related topics. This was seen during the Covid-19 infodemic context, when media often reported and broadcast news on this topic. We understand that the newspapers contributed decisively to publicize and raise awareness among the subjects about that moment, as well as helped build meanings about the new virus (SARS-CoV2), but also helped subjects understand the disease and all changes resulting from the attempts to contain the health crisis. Based on Saraí Schmidt’s argument (1999) that the newspaper would function as a classroom, teaching through its pedagogy certain lessons that make up a curriculum, we understand that the supplement ‘Living Healthily’, a space dedicated to issues involving health and well-being, was published on Mondays in two important Sinos Group newspapers (NH and Diário de Canoas), bringing, during the first year of the pandemic, lessons and teachings about the body, health and disease, representing the pandemic period through different editorials. Therefore, the objective is both to analyze how the weekly Supplement Living Healthily, printed by Sinos Group, didactically and pedagogically built meanings about the Covid-19 pandemic and to identify which of those activated and circulating meanings integrate the cultural curriculum of the supplement in the year 2020. From the theoretical perspective of Cultural Studies in Education and Sciences, we carried out a cultural analysis, inspired by the rules that make up a grammar to analyze the printed media (Rocha, 2012), by reading the 44 editions of the Supplement, in which we selected 100 publications that dealt directly with Covid-19, which were grouped by editorials, making it possible to identify the recurrences and convergences of topics and pedagogical strategies. Consequently, we identified that, besides functioning as a classroom, the journalism carried out in the Supplement makes the newspaper resemble a doctor’s office, as it teaches readers about ways to protect themselves in health emergencies, and also builds representations about the pandemic period in the metropolitan area of Porto Alegre and Vale do Rio dos Sinos, in Rio Grande do Sul. It should be noted that each editorial of the weekly supplement has its own set of strategies, encouraging the reader to read them, informing and educating them through a shared curriculum that brings certain topics it considers relevant, so that the subjects stay healthy. In this sense, we understand this curriculum is structured through representations and discourse about the healthy body, the high risks involved with the coronavirus and the complex care network and preventive actions it has raised, consequently educating in and for health, in the first year of the pandemic, informing the population about ways of being, living and surviving this moment.