A voz e o abismo : considerações sobre o silêncio e a pulsão invocante
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Data
2012Autor
Orientador
Nível acadêmico
Mestrado
Tipo
Assunto
Resumo
A presente pesquisa perseguiu as possibilidades abertas pela pergunta: o que é preciso tramitar do silêncio que permeia o som para recolher os efeitos da pulsão invocante? A pergunta que nos norteou tomou contornos a partir das inquietações que emergiram na condução de diferentes oficinas de música destinadas a sujeitos em grave sofrimento psíquico. Se as inquietações surgiram dessa experiência, o horizonte da investigação não se restringiu ao campo particular da clínica com a psicose. A pesqui ...
A presente pesquisa perseguiu as possibilidades abertas pela pergunta: o que é preciso tramitar do silêncio que permeia o som para recolher os efeitos da pulsão invocante? A pergunta que nos norteou tomou contornos a partir das inquietações que emergiram na condução de diferentes oficinas de música destinadas a sujeitos em grave sofrimento psíquico. Se as inquietações surgiram dessa experiência, o horizonte da investigação não se restringiu ao campo particular da clínica com a psicose. A pesquisa buscou interrogar as incidências dos elementos que perfazem o campo da música sobre a emergência do sujeito, tendo como referencial os aportes da psicanálise freudiana e lacaniana. A pergunta fundante desta pesquisa se vale de uma torção temporal, na qual é pela emergência de efeitos atuais que se sustenta a origem de uma operação anterior, que se extravia ao alcance ao fundar-se. Fez-se necessário justificar o modo de colocação da pergunta tecendo um percurso conceitual a respeito da temporalidade e da origem. O aporte de Freud protagonizou a elaboração de uma temporalidade a posteriori, tecida pela descontinuidade e pela torção. A abordagem de Lacan acerca do tempo lógico impôs radicalidade à valorização da antecipação. A ruptura operada pelo a posteriori nos levou a concebê-lo como uma temporalidade própria à emergência do sujeito sustentada na escansão. A origem foi posta em jogo na antecipação da significação do Outro num tempo de passividade anterior ao tempo do sujeito, e foi concebida como uma ficção do impossível que desdobra o vazio que marca a origem do sujeito. A posteriori, vimos que a escansão nos conduz para além de uma questão de método e retorna sobre o conteúdo mesmo da pergunta. Nesse sentido, propusemos considerar a articulação entre silêncio e pulsão invocante à luz de uma mesma operação de descontinuidade. Discorremos acerca da voz como um excedente real do Outro e consideramos o traço unário como uma escansão inaugural que funda um silêncio estruturante. Situamos a operatória que possibilita a fundação de uma zona de silêncio ou um ponto surdo, que permite ao sujeito esquecer o timbre originário da voz do Outro. A abertura dessa zona inaudita inaugura o circuito da pulsão invocante, a partir da qual o sujeito, depois de esquecer o chamado do Outro, poderá chamar. A música surge como resposta singular que um sujeito pode formular diante do impossível do encontro com a voz em sua dimensão de objeto a. A criação musical é endereçada ao Outro, mas também inclui um terceiro, o ouvinte, no retorno do circuito da invocação. Fechando o trabalho, recolhemos algumas cenas da experiência para dar um contorno singular ao percurso conceitual, remetendo-nos ao final, novamente, ao abismo do silêncio do Outro enquanto enigma que desliza na cultura. ...
Abstract
The present study has pursued the possibilities derived from the following question: what is there to be processed of the silence within sound in order to perceive effects of the invocatory drive? The question that guided us had its contours built by inquietudes that emerged throughout the conduction of different therapeutic music workshops aimed for subjects in severe psychic suffering. While the interrogations arose from this experience, the aim of the research wasn’t restricted to the clinic ...
The present study has pursued the possibilities derived from the following question: what is there to be processed of the silence within sound in order to perceive effects of the invocatory drive? The question that guided us had its contours built by inquietudes that emerged throughout the conduction of different therapeutic music workshops aimed for subjects in severe psychic suffering. While the interrogations arose from this experience, the aim of the research wasn’t restricted to the clinic of psychosis’ particular field. The research intended to examine how the elements that constitute the musical field have incidence in the emergence of the subject, having in Freudian and Lacanian psychoanalysis its main theoretical reference. The initial question is based upon a time torsion, by which the appearance of current effects underlies the origin of a previous operation, which becomes lost by the time it’s founded. In order to justify such collocation, a conceptual path on temporality and origin is held. Freud’s contributions play a leading role in conceiving the temporality of the deferred action composed by discontinuity and torsion. Lacan’s approach to the logical time amplifies it by valuing the anticipation and leading us to assess the deferred action as the temporality of the subject’s emergence, supported by the scansion. Origin was placed in reference to the anticipation of the Other’s signification in a time of passiveness, previous to the subject’s constitution, conceived therefore as a fiction of the impossible that veils the subject’s original void. Henceforth it’s seen that the scansion leads us to the content of our question itself, from which it’s possible to consider the articulation between silence and invocatory drive in the light of its very operation of rupture. Discussion is held on the voice being a surplus of the Other’s Real and the unary trait as an original rupture founding a structural silence, defined as a zone of silence or a deaf spot – as an unheard zone that allows the subject to forget the Other’s original timbre. This unheard zone inaugurates the invocatory drive’s circuit, whereby the subject, after hearing the Other’s call, will be able to address a call. The music arises as a singular answer that the subject may set down towards the impossible encounter with the voice as object a. A musical creation is addressed to the Other but also includes a third party, the listener, in the invocatory circuit’s return. As closing, scenes of the experience are collected in order to provide singular contours to the conceptual path, regarding anew the abyss of the Other’s silence as an enigma that resides in culture. ...
Instituição
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Instituto de Psicologia. Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social e Institucional.
Coleções
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Ciências Humanas (7540)
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