Adenocarcinoma de glândula salivar mandibular em um felino FeLV-positivo : relato de caso

Abstract

A infecção pelo vírus da leucemia felina (FeLV; do inglês, feline leukemia virus) resulta em uma ampla gama de doenças e síndromes clínicas, incluindo neoplasias, distúrbios da medula óssea, doenças imunomediadas, imunossupressão e neuropatias. O FeLV replica em diversos tecidos epiteliais, como faringe, estômago, esôfago, pâncreas, glândulas salivares, vesícula urinária e córnea. Entretanto, a única neoplasia epitelial associada a esse vírus é o neuroblastoma olfatório. Os outros tumores malignos induzidos pelo FeLV incluem linfomas (FeLV positivos de células T e negativos de células B), leucemias (células linfoides ou outras linhagens hematopoiéticas) e fibrossarcomas (origem mesenquimal). Na espécie felina, neoplasias de glândulas salivares representam 0,6% dos casos em relação a todos os tumores. O tipo histológico mais comumente encontrado é o adenocarcinoma simples. O presente trabalho tem como objetivo relatar o caso de um gato, macho, sem raça definida, com seis anos de idade, previamente diagnosticado com infecção por FeLV e apresentando um nódulo em região cervical esquerda.

Após a realização de exames complementares para estadiamento e planejamento cirúrgico, a excisão cirúrgica foi realizada e o diagnóstico histopatológico de adenocarcinoma de glândula salivar foi definido. Adicionalmente, foi realizado exame de imuno-histoquímica para avaliar a presença do vírus nas células neoplásicas e possível relação entre ambas as condições, porém havia imunomarcação apenas em células linfoides e inflamatórias mononucleares em permeio ao neoplasma, não estando este presente nas células tumorais. O tratamento da condição neoplásica constituiu-se na exérese da massa tumoral e protocolo quimioterápico adjuvante, com uso de cloridrato de doxorrubicina, para evitar a progressão da doença e a recidiva do tumor. Embora o protocolo não tenha sido continuado, a associação de ambas as terapias aparentemente obteve resultado satisfatório, considerando que o paciente se encontra clinicamente saudável e sem sinais de recidiva tumoral aos 149 dias após o procedimento cirúrgico. A relevância clínica deste relato reside no fato de que tumores epiteliais em gatos positivos podem não estar relacionados à infecção pelo FeLV e devem ser incluídos no diagnóstico diferencial de massas cervicais nessa espécie.