O devir-criança e a possibilidade de OutraMundar (neste mundo) : o animismo infantil

Abstract

A presente tese foi orientada pelas seguintes questões: 1) Quais outros mundos são possíveis quando imantados pelo devir-criança? 2) Como contocartografar forças atuantes nos encontros formativos com as crianças? e teve os seguintes objetivos: perceber como o devir-criança possibilita um Outramundar (neste mundo); provocar algumas relações que o devir-criança experimenta com o mundo e, por fim, analisar como tais relações poderiam rasurar a forma de nos relacionarmos com os não humanos. Para a produção do material empírico, realizamos uma pesquisa com 23 crianças, com idades entre 4 e 5 anos da pré-escola de uma instituição de ensino do Município de Osório. O percurso metodológico foi a contocartografia, criada para dar corpo aos afectos que atravessaram o corpo da pesquisadora no encontro com as crianças. A tese constitui-se de uma escrita provocada pelo devir-criança, que são contos e outros textos criados a partir da violência provocada pelas e(vidências) de um mundo de difícil compreensão e cujo choque de racionalidades nos coagiram a pensar. Nesse sentido, tal exercício analítico, possibilitou perceber que para outramundar (neste mundo) necessitamos estar esgotadas, ou seja, é preciso que uma forma de vida se esgote, para que outras maneiras de estar no mundo possam ser inventadas. Com isso, um novo campo de possíveis se abre. Esse campo de possíveis não seria do já dado, mas virtualidades que são possibilitadas pelos encontros, que no caso dessa tese, foi também com as crianças. Para que o encontro com elas acontecesse, foi necessário, anteriormente, a construção de um corpo sensível a afectos e perceptos, isto é, um corpo vibrátil. O encontro do corpo da pesquisadora com as crianças provocou, em um primeiro momento, incompreensão e sofrimento, pois não estávamos preparadas para experimentar o pensamento infantil, que nos pareceu à primeira vista, uma desrazão. No entanto, fomos entendendo ao longo da investigação, que o pensamento infantil viabilizava uma outra maneira de estabelecer relações com o mundo, ou seja, o devir-criança viabiliza o animismo infantil. Com isso, percebemos que o animismo infantil possibilita outramundar (neste mundo) e a invenção de outras subjetividades.

This thesis was guided by the following questions: 1) What other worlds are possible when magnetized by becoming-child? 2)How to (story)cartography forces at work in formative encounters with children? and had the following objectives: to understand how becoming-child enables an “otherworld” (in this world); to understand some relationships that the becoming-child experiences with the world and, finally, analyze how such relationships could erase the way we relate to non-humans. To produce the empirical material, we carried out a survey with 23 children, aged between 4 and 5 years old, attending preschool at an educational institution in the Municipality of Osório. The methodological path was the (story)cartography, created to embody the affections that crossed the researcher's body in the meeting with the children. The thesis consists of writing provoked by becoming-child, which are short stories and other texts created from the violence provoked by the evidence of a world that is difficult to understand and whose clash of rationalities coerced us to think. In this sense, such an analytical exercise made it possible to realize that for another world (in this world) we need to be exhausted, that is, a form of life needs to be exhausted, so that other ways of being in the world can be invented. With this, a new field of possibles opens up. This field of possibles would not be something already given, but virtualities that are made possible by meetings, which in the case of this thesis, were with children. For the meeting to happen, it was previously necessary to build a body sensitive to affects and perceptions, that is, a vibrating body. The encounter between the researcher's body and the children caused, at first, incomprehension and suffering, as we were not prepared to experience children's thinking, which seemed to us at first to be unreasonable. However, throughout the investigation, we came to understand that childish thinking enabled another way of establishing relationships with the world, that is, becoming-child enables childish animism. With this, we realize that infantile animism allows for “otherworld” (in this world) and the invention of other subjectivities.