O papel do narrador na construção de memória(s) e identidade(s) em Eu que nunca conheci os homens
Visualizar/abrir
Data
2024Autor
Orientador
Co-orientador
Nível acadêmico
Graduação
Assunto
Resumo
O presente trabalho de conclusão de curso analisa o romance Eu que nunca conheci os homens (2021) da escritora e psicanalista belga Jacqueline Harpman, originalmente publicado em 1995. A obra aborda a história de quarenta mulheres – trinta e nove adultas e uma menina – que se encontram presas em uma jaula coletiva, dentro de um porão, sob a vigilância de guardas – todos homens – que permanecem sempre em silêncio, apenas fornecendo provisões básicas para sobrevivência. Um dia, inexplicavelmente, ...
O presente trabalho de conclusão de curso analisa o romance Eu que nunca conheci os homens (2021) da escritora e psicanalista belga Jacqueline Harpman, originalmente publicado em 1995. A obra aborda a história de quarenta mulheres – trinta e nove adultas e uma menina – que se encontram presas em uma jaula coletiva, dentro de um porão, sob a vigilância de guardas – todos homens – que permanecem sempre em silêncio, apenas fornecendo provisões básicas para sobrevivência. Um dia, inexplicavelmente, uma sirene toca e os guardas fogem, deixando as chaves na porta da jaula. A menina pega, abre a porta e as liberta. Essa menina não nomeada, apenas apelidada de Pequena, foi criada dentro da jaula. Logo, vive sem ter memórias do mundo exterior, tendo como fonte de conhecimento somente as lembranças que as outras mulheres aceitam compartilhar. Após a fuga, ela e as companheiras rumam em busca de alguma civilização ou resposta em relação ao acontecido, mas encontram apenas um lugar inóspito e desconhecido. A história é narrada por essa personagem já idosa e adoecida que decide, no final de sua vida, narrar sua história e experiência que passou com essas mulheres. Dessa forma, a análise feita do romance apoia-se predominantemente nas ideias sobre memória propostas por Maurice Halbwachs em A memória coletiva (1990). O foco da pesquisa recai sobre as percepções da protagonista enquanto narradora respaldada pelo conceito de narrador de Walter Benjamin, a partir de sua obra Magia e Técnica, Arte e Política: Ensaios Sobre Literatura e História da Cultura (1987). Ao relacionar as impressões de Benjamin sobre narração com a teoria de Maurice Halbwachs sobre memória, busca-se identificar qual o papel que a narradora teve na construção das memórias, tanto sua individual quanto a coletiva do grupo. Ademais, é tratado sobre identidade e cultura à luz dos autores Cuche (1999), Hall (1997, 2006, 2014), Pollak (1992) e Silva (2014), pois todas as mulheres tinham uma vida já formada antes da jaula e, por conseguinte, sua própria identidade, exceto a Pequena, que teve sua identidade construída a partir daquele único meio social em que foi inserida. Isto posto, será analisado como ocorre a conceituação de identidade individual e coletiva na obra. Além disso, será abordada a questão da construção de identidade a partir da cultura que as mulheres criaram no confinamento e, como o papel da narradora contribuiu para a construção da sua identidade e reconstrução, ao narrar a história, da identidade das outras prisioneiras. Os resultados desse estudo apontaram a importância da memória e da identidade para formação do sujeito e da coletividade, sendo assim, o presente trabalho pôde proporcionar uma reflexão sobre o significado de ser humano em sociedade, visando contribuir não somente para enriquecer as pesquisas sobre a autora – visto que não há muitos estudos em língua portuguesa sobre ela – mas também para estudos futuros sobre a inter-relação dos conceitos de memória e identidade no contexto literário. ...
Abstract
The present paper aims to analyze the dystopian novel I Who Have Never Known Men (2021), written by the Belgian writer and psychoanalyst Jacqueline Harpman, originally published in 1995. The novel delves into the story of forty women – 39 adults and one girl – who find themselves trapped in a collective cage inside a basement, under the surveillance of guards – all men – who remain consistently silent, only providing them with basic provisions for survival. One day, inexplicably, a siren sounds ...
The present paper aims to analyze the dystopian novel I Who Have Never Known Men (2021), written by the Belgian writer and psychoanalyst Jacqueline Harpman, originally published in 1995. The novel delves into the story of forty women – 39 adults and one girl – who find themselves trapped in a collective cage inside a basement, under the surveillance of guards – all men – who remain consistently silent, only providing them with basic provisions for survival. One day, inexplicably, a siren sounds, and the guards flee, leaving the keys in the cage’s door. The girl takes them, opens the door, and sets the women free. This unnamed girl, simply nicknamed The Child, was raised inside the cage and thus lives without memories – both individual and collective – of the outside world, relying solely on the memories that the other women are willing to share. After the escape, she and the women set out in search of civilization or answers regarding what happened, but they only find an inhospitable and unknown place. The story is narrated by this elderly and ailing character who decides, at the end of her life, to narrate her story and the experiences she had with these women. In this way, the analysis of the novel predominantly relies on Maurice Halbwachs' ideas about memory as proposed in On Collective Memory (1990). The research focuses on the perceptions of the protagonist as a narrator supported by Walter Benjamin's concept of the narrator from his work Illuminations: Essays and Reflections (1987). By relating Benjamin's insights on narration to Maurice Halbwachs' theory on memory, the aim is to identify the role that the narrator plays in constructing both the girl’s individual memories and the group's collective memories. Furthermore, the thesis addresses issues of identity and culture in light of the theories of Hall (1997, 2006, 2014), Pollak (1992), and Silva (2014), as all the women had established lives before the cage, and consequently, their own identities – except for The Child, whose identity was constructed within the only social environment she knew. Therefore, the analysis will examine how the conceptualization of individual and collective identity unfolds in the novel. Additionally, it will explore the construction of identity based on the culture they created in confinement and how the narrator's role contributed to shaping The Child’s own identity and reconstructing, through storytelling, the identities of the other prisoners. The results of this study highlighted the importance of memory and identity in the formation of the individual and the community. Thus, the present work was able to provide a reflection on the meaning of being a human in society, aiming to contribute not only to enriching research on the author – given the scarcity of studies in the Portuguese language about her work – but also to future studies on the interrelation of the concepts of memory and identity in the literary context. ...
Instituição
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Instituto de Letras. Curso de Letras: Licenciatura.
Coleções
-
TCC Letras (1237)
Este item está licenciado na Creative Commons License