A relação de complexidade entre a humanidade e a monstruosidade de Hannibal Lecter

Abstract

Este trabalho propõe uma discussão sobre a relação de complexidade entre a humanidade e a monstruosidade de Hannibal Lecter, personagem da série O silêncio dos inocentes, de Thomas Harris. Para tanto, foi necessário debruçar-se sobre os estudos de monstruosidade, bem como sobre os teóricos das ciências humanas, sobretudo a partir das perspectivas de Jeffrey Jerome Cohen e Luiz Nazário. A pesquisa aponta que a complexidade nas características humanas e monstruosas de Lecter parte de sua forma híbrida enquanto ser social que, em determinados momentos, demonstra padrões de comportamento humano no que diz respeito às questões biológicas e sociais, e, outrora, manifesta sua natureza monstruosa, naquilo que a sociedade considera como um corpo monstruoso e suas implicações. A partir dessa perspectiva, foi possível concluir que o personagem não nasceu monstro, isto é, não pode ser considerado apenas dentro dos parâmetros de monstrificação, mas, além disso, deve ser observado como um sujeito humanizado, uma vez que tornou-se quem é a partir de eventos traumáticos em sua infância, e ao longo de seu desenvolvimento como ser humano. As vivências traumáticas pelas quais o personagem passou em um determinado momento de sua vida, potencializaram padrões de comportamentos classificados como monstruosos, no que se refere às suas tendências psicóticas, que culminaram em uma série de crimes de assassinato e canibalismo. Lecter não pode ser analisado de uma forma unilateral, ao passo que este personagem é complexo e caracterizado com múltiplas camadas, revelando assim, sua pluralidade tanto como um ser humano quanto como um monstro, despertando a curiosidade de leitores e estudiosos.

This work proposes a discussion about the complex relationship between humanity and the monstrosity of Hannibal Lecter, a character in the series “The Silence of the Lambs”, by Thomas Harris. To do so, it was necessary to look into monstrosity studies, as well as human science theorists, especially from the perspectives of Jeffrey Jerome Cohen and Luiz Nazário. The research points out that the complexity in Lecter's human and monstrous characteristics comes from his hybrid form as a social being who, at certain times, demonstrates patterns of human behavior with regard to biological and social issues, and, in the past, manifests his monstrous nature. , in what society considers to be a monstrous body and its implications. From this perspective, it was possible to conclude that the character was not born a monster, that is, he cannot be considered only within the parameters of monstrification, but, in addition, he must be observed as a humanized subject, since he became who he is. from traumatic events in his childhood, and throughout his development as a human being. The traumatic experiences that the character went through at a certain point in his life, heightened patterns of behavior classified as monstrous, in terms of his psychotic tendencies, which culminated in a series of crimes of murder and cannibalism. Lecter cannot be analyzed in a unilateral way, while this character is complex and characterized by multiple layers, thus revealing his plurality both as a human being and as a monster, arousing the curiosity of readers and scholars.