Treinamento perceptual por meio de uma plataforma de pronúncia : uma análise de processo das produções de Voice Onset Time por aprendizes brasileiros de língua inglesa

Abstract

Considerando a língua como um sistema vivo que está sempre suscetível de mudanças, e que é aberto aos contextos em que se insere, e firmado em uma visão à luz da Teoria dos Sistemas Dinâmicos Complexos (De Bot; Lowie; Verspoor, 2007; Larsen-Freeman, 2015; Larsen-Freeman, 2017; Larsen-Freeman; Cameron, 2008; Lowie; Verspoor, 2015), este estudo apresenta uma análise de processo (Lowie, 2017) do desenvolvimento do padrão de Voice Onset Time (VOT) positivo através das trajetórias de dois falantes brasileiros nativos de Português e falantes de Inglês como Língua Adicional (LA), observando-se os possíveis efeitos de uma prática pedagógica de treinamento perceptual. Ao longo de um estudo longitudinal de duração de três meses, com 12 coletas de caráter semanal, realizamos um experimento no formato A-B-A (Hiver; Al-Hoorie, 2020), com um período de intervenção pedagógica (nas semanas condizentes às coletas 5 a 8) através de uma plataforma online de treinamento perceptual de pronúncia (CALST). Foram realizados três métodos diferentes de análise, sendo um deles descritivo, com plotagem de gráficos a partir dos VOTs encontrados nas gravações dos participantes, e dois inferenciais (análises de pico e análises de Change-Points), a fim de verificar aspectos como a variabilidade e as mudanças de fase nos sistemas dos participantes. As análises de picos (Cf. Van Dijk; Verspoor; Lowie, 2011), através de Simulações de Monte Carlo com 10.000 interações, demonstraram picos de desempenho descendentes significativos no sistema do Participante 1, majoritariamente no período da intervenção, indicando a alta variabilidade do sistema no processo de aprendizagem. Já a análise de Change-Points (Cf. Taylor, 2000) detectou mudanças de fase nos sistemas linguísticos de ambos os participantes, novamente, em sua maioria, durante o período de intervenção. Os resultados dos dois métodos de verificação inferencial, quando combinados, mostram que a participante com um nível mais básico de Inglês (Participante 2) demonstrou mais pontos de mudança do que picos, ao contrário do participante com nível intermediário (Participante 1), que demonstrou mais picos, i.e., mais oscilações, mas menos pontos de mudança. Isso mostra que o treinamento realizado pela plataforma teve mais sucesso frente a um sistema menos proficiente, o que possibilitou uma mudança significativa de fases no desenvolvimento dos aspectos fonético-fonológicos observados.

Considering language as a living system that is always susceptible to changes and open to the contexts in which it is situated, and grounded in the perspective of Complex Dynamic Systems Theory (De Bot; Lowie; Verspoor, 2007; Larsen-Freeman, 2015; Larsen-Freeman, 2017; Larsen-Freeman; Cameron, 2008; Lowie; Verspoor, 2015), this study presents a process analysis (Lowie, 2017) of the development of positive Voice Onset Time (VOT) patterns through the trajectories of two Brazilian native speakers of Portuguese who are also English L2 speakers. The study investigates the potential effects of the pedagogical practice of perceptual training. Over a three-month longitudinal study with 12 weekly data collection sessions, an A-B-A experiment (Hiver; Al-Hoorie, 2020) was conducted with a pedagogical intervention period (during the weeks corresponding to sessions 5 to 8) through a perceptual pronunciation training platform (CALST). Three different analytical procedures were employed: one grounded in descriptive statistics, involving the plotting of graphs based on the VOTs found in the participants' recordings, and two inferential methods (peak analysis and change-point analysis), to examine aspects such as variability and phase changes in the participants' systems. Peak analyses (Cf. Van Dijk; Verspoor; Lowie, 2011) using Monte Carlo Simulations with 10,000 interactions demonstrated significant downward performance peaks in the first participant’s system, primarily during the intervention period, indicating high system variability in the learning process. Change-point analyses (Cf. Taylor, 2000) detected phase changes in the linguistic systems of both participants, again, mostly during the intervention period. When combined, the results of the two inferential verification methods show that the participant with a more basic level of proficiency in English (Participant 2) demonstrated more change points than peaks, in contrast to the intermediate-level learner (Participant 1), who exhibited more peaks, i.e., more fluctuations but fewer change points. This indicates that the training provided by the platform was more successful in affecting a less proficient system, allowing for significant phase changes in the development of the observed phonetic-phonological aspects.