O caráter preposicional da prefixação nominal em português : princípios locacionais em propostas de representação conceitual
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Data
2025Orientador
Nível acadêmico
Graduação
Assunto
Resumo
condição de elementos estritamente morfológicos ou de unidades atuantes no nível morfossintático mais amplo, sugerindo não haver um limite categórico entre prefixos e preposições (Nunes, 2011; Ganança, 2017; Martín García, 2017; Rio-Torto, 2019, 2020). Produtos prefixados derivados de nomes que ocupam posições tradicionais de sintagmas preposicionados apontam não só para um valor atributivo incorporado à expressão (cf. mundo pós-guerra, atitude anti-liberdade de expressão) como também para um u ...
condição de elementos estritamente morfológicos ou de unidades atuantes no nível morfossintático mais amplo, sugerindo não haver um limite categórico entre prefixos e preposições (Nunes, 2011; Ganança, 2017; Martín García, 2017; Rio-Torto, 2019, 2020). Produtos prefixados derivados de nomes que ocupam posições tradicionais de sintagmas preposicionados apontam não só para um valor atributivo incorporado à expressão (cf. mundo pós-guerra, atitude anti-liberdade de expressão) como também para um uso adverbial (cf. gestão que foi feita pós-resolução, coletas sanguíneas ocorreram imediatamente pré-treinamento), o que é observado em diferentes línguas latinas (Rey, 1968; Durand, 1982; Alves, 1990, 2000, 2002; Martín García, 1996, 2001, 2002, 2005; Montero Curiel, 1998; Duarte, 1999; Gràcia, 1999; Serrano-Dolader, 2002, 2003; Amiot, 2004; Heyna, 2008; Fábregas, 2010; Stehlík, 2012a, 2012b). Nesse contexto, análises do fenômeno que enfatizam a função sintática das referidas formações são inconclusivas e apresentam divergência, passando, inclusive, pela pressuposição de mudança de classe gramatical. Diante desse cenário, propomos uma abordagem alternativa ao investigar a natureza semântica de prefixos do português frequentemente recorrentes nos contextos supracitados: pré-, pós-, anti-, pró-, intra-, extra-, inter- e entre-. Mais do que defender a atribuição de um status prefixal ou de uma determinada classe gramatical a certas unidades, buscamos compreender: (i) qual a natureza semântica desses processos de prefixação; (ii) se é possível reconhecer um padrão de uso desses prefixos com base em representações léxico-conceituais; e (iii) em que medida esses usos se aproximam, do ponto de vista semântico, das preposições na estruturação do significado. Para isso, realizamos coleta de dados em textos disponíveis online, com auxílio de corpora especializados, como o Corpus do Português (Davies, 2016, 2018) e a Linguateca (Costa; Santos; Cardoso, 2008), e ferramentas de busca em plataformas abertas, como Google e X/Twitter. Nossas análises qualitativas foram conduzidas sob uma perspectiva mentalista da linguagem, adotando a Arquitetura Paralela (Jackendoff, 2002, 2010), um modelo teórico que concebe a língua como um sistema integrado, no qual um item lexical mapeia regras de interface que conectam construtos de diferentes níveis, sendo eles o semântico, o morfossintático e o fonológico. Para a análise pretendida no nível semântico, utilizamos os subsídios da Semântica Conceitual (Jackendoff, 1983, 1990), modelo em que as representações são organizadas por categorias ontológicas fundamentais por meio das quais organizamos cognitivamente o mundo, tais como [THING], [PLACE], [PATH], [EVENT], [STATE] e [PROPRIETY]. Além disso, nossa análise incluiu representações imagéticas espaciais inspiradas na análise semântica de preposições da língua inglesa elaborada por Tyler & Evans (2003), bem como construções parafrásticas a fim de rearticular o conteúdo para evidenciar as relações implicadas na estrutura léxico-conceitual das formações prefixadas. Foi possível analisar os prefixos selecionados em seus contextos de uso e propor suas representações semânticas, verificando um padrão em mobilizações na estrutura léxico-conceitual comuns a preposições, que exercem um papel crucial ao mapear, principalmente, relações do tipo função-argumento das categorias ontológicas [PLACE] (place-functions) e [PATH] (path-functions). Nossas representações utilizam predicados primitivos presentes em trabalhos anteriores, com ajustes pontuais, sendo possível analisar as formações em foco pelos princípios locacionais que orientam a teoria utilizada, segundo a qual noções de localização espacial desempenham um papel central na estruturação conceitual da linguagem. ...
Abstract
The grammatical behavior of prefixes in Portuguese raises questions about their status as strictly morphological elements or as units operating at a broader morphosyntactic level, suggesting the absence of a clear-cut categorical boundary between prefixes and prepositions (Nunes, 2011; Ganança, 2017; Martín García, 2017; Rio-Torto, 2019, 2020). Prefixed forms derived from nouns that traditionally occupy prepositional phrase positions point not only to an attributive value embedded in the expres ...
The grammatical behavior of prefixes in Portuguese raises questions about their status as strictly morphological elements or as units operating at a broader morphosyntactic level, suggesting the absence of a clear-cut categorical boundary between prefixes and prepositions (Nunes, 2011; Ganança, 2017; Martín García, 2017; Rio-Torto, 2019, 2020). Prefixed forms derived from nouns that traditionally occupy prepositional phrase positions point not only to an attributive value embedded in the expression (e.g., mundo pós-guerra, atitude anti-liberdade de expressão) but also to adverbial usage (e.g., gestão que foi feita pós-resolução, coletas sanguíneas ocorreram imediatamente pré-treinamento), a phenomenon observed across multiple Romance languages (Rey, 1968; Durand, 1982; Alves, 1990, 2000, 2002; Martín García, 1996, 2001, 2002, 2005; Montero Curiel, 1998; Duarte, 1999; Gràcia, 1999; Serrano-Dolader, 2002, 2003; Amiot, 2004; Heyna, 2008; Fábregas, 2010; Stehlík, 2012a, 2012b). Within this framework, analyses of the phenomenon that focus on the syntactic function of such formations remain inconclusive and exhibit significant divergences, even extending to the presumption of a shift in word class. Given this scenario, we propose an alternative approach by investigating the semantic nature of Portuguese prefixes that frequently appear in the aforementioned contexts: pré-, pós-, anti-, pró-, intra-, extra-, inter-, and entre-. Rather than aiming to definitively assign prefixal status or a particular word class to these units, our goal is to investigate: (i) the semantic nature of these prefixation processes; (ii) whether patterns of usage can be identified based on lexical conceptual representations; and (iii) to what extent these usages semantically align with the behavior of prepositions in the construction of meaning. To this end, we collected data from online texts using specialized corpora such as Corpus do Português (Davies, 2016, 2018) and Linguateca (Costa, Santos, & Cardoso, 2008), along with open-access search platforms like Google and X/Twitter. Our qualitative analyses were grounded in a mentalist perspective on language, adopting Parallel Architecture (Jackendoff, 2002, 2010), a theoretical framework that treats language as an integrated system in which lexical items map interface rules that connect constructs from different levels: semantic, morphosyntactic, and phonological. For the semantic analysis, we drew upon Conceptual Semantics (Jackendoff, 1983, 1990), a model in which representations are organized around fundamental ontological categories through which we cognitively structure the world, such as [THING], [PLACE], [PATH], [EVENT], [STATE], and [PROPERTY]. Our analysis also incorporated spatial image schemas inspired by the semantic analysis of prepositions by Tyler & Evans (2003), along with paraphrastic constructions designed to rearticulate content and highlight the relationships encoded in the lexical conceptual structure of prefixal formations. This approach allowed us to analyze the selected prefixes in their usage contexts and propose their semantic representations. We identified a pattern in their lexical conceptual structures that mirrors that of prepositions, particularly in mapping function-argument relations involving the ontological categories [PLACE] (place-functions) and [PATH] (path-functions). Our proposed representations build on previously established primitive predicates, with occasional adjustments, showing that the formations under analysis can be accounted for through the locative principles that underlie the theoretical model, wherein spatial location plays a central role in conceptual language structure. ...
Instituição
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Instituto de Letras. Curso de Letras: Português e Inglês: Licenciatura.
Coleções
-
TCC Letras (1380)
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