Sobre o ser constituído eticamente no exercício da docência matemática

Abstract

Este trabalho é o resultado de uma pesquisa que começa abordando diferentes interpretações dadas, ao longo dos tempos, à conduta ética. Por ser um termo aplicado a relações sociais, a ética, aqui entendida como a busca da “melhor” conduta, é necessariamente relacionada com determinadas normas definidas como positivas dentro de uma sociedade, normas essas que variam dentro do regime de verdades convencionado. Com o racionalismo de Kant e o movimento iluminista, a conduta passa a ser pensada como universalizável e as novas verdades do sujeito moderno agora são as estabelecidas dentro dos discursos científicos, que não reconhecem qualquer pensamento contrário às suas bases estabelecidas. Em consequência, pelo fato desses discursos serem amplamente aceitos pela sociedade, o homem é pensado de forma unitária, com condutas éticas e formas de pensamento bem definidas. Assim, a ética desse sujeito moderno pode ser pensada como conservadora de condutas e pensamentos. Em contrapartida, Foucault propõe um conceito de ética muito próximo ao da Grécia Antiga, ao pensar na estética da existência como uma forma de conduzir a nossa vida de acordo com as nossas escolhas e caminhos trilhados. A partir da perspectiva da ética enquanto conservadora, conjectura-se acerca de como seria a ética do professor de matemática no exercício da sua profissão, primeiramente no campo específico do ensino, visto que a educação matemática se tornou um campo científico com ampla produção de metodologias de ensino. Fazendo-se valer de entrevistas realizadas com professores de matemática, confronta-se os dados obtidos nas mesmas com o referencial teórico adotado, além de discutir-se características tidas por éticas na conduta docente, explicitadas pelos entrevistados. A análise se dá em diversos campos que não são pensados para entender possíveis consequências das suas falas, mas sim para entender em que condições tais discursos relativos à ética vêm sendo produzidos.

This paper is the result of a research that begins by approaching to different interpretations given, throughout the ages, to ethical conduct. By being a term better applied to social relations, ethics, here comprehended as the search for the "best" conduct, is necessarily related to strict standards defined as positive into a society, which standards vary within the agreed regime of truth. With the rationalism of Kant and the Enlightenment, the conduct is now thought as universalizable and the new truths of the modern subject are now the ones established within the scientific discourses, which does not recognize any thought opposed to its established bases. Consequently, because these discourses are widely accepted by the society, man is thought in a unitary manner, with ethical conducts and thinking ways well defined. Thus, the ethics of this modern subject can be thought as conservative of behavior and thoughts. In contrast, Foucault proposes a concept of ethics very close to the Ancient Greece, by thinking on aesthetics of existence as a way of leading our life according to our choices and paths taken. From the perspective of ethics as conservative, it is conjectured about how would be the ethics of the mathematics teacher while exercising their profession, first, in the particular field of education, since the mathematical education has become a scientific field with wide production of education methodologies. Relying on interviews with mathematics teachers, confronted the data obtained with the adopted theoretical framework, in addition to discussing characteristics taken as ethical in teaching conduct, revealed by the respondents. The analysis takes place in many fields, not thought to understand possible consequences of its speeches, but to understand in which conditions these statements relating to ethics have been produced.