Questões de saúde e gênero : cuidados em saúde e nutrição com a população trans

Abstract

Pessoas transexuais estão mais expostas ao preconceito e à discriminação por não se adequarem ao gênero designado ao nascimento e por isso, tem seus direitos básicos atacados, levando-as à situação de vulnerabilidade social, que incide na determinação social da saúde, no processo de sofrimento e adoecimento. Urge a necessidade de compreender as disparidades e condições de saúde dessas pessoas e quais suas demandas em saúde. Além disso, expor questões pertinentes para o campo da nutrição, com o propósito de incentivar a realização de novos estudos e fornecer informações para contribuir no planejamento e direcionamento de programas e políticas públicas, visto que os estudos na área da nutrição ainda são muito limitados no Brasil. O objetivo deste trabalho é propor uma reflexão sobre as condições de vida e saúde da população trans no Brasil, suas vulnerabilidades sociais e dificuldades para acessar os serviços de saúde e o papel da nutrição neste cenário. Trata-se de uma revisão narrativa com o propósito de aprofundar a discussão sobre o tema dentro da nutrição, através da revisão de documentos governamentais (leis, portarias, políticas públicas), textos clássicos sobre gênero, artigos científicos encontrados na base de dados PubMed e análise crítica da autora. Existem diversas barreiras que dificultam o acesso e a obtenção de dados sobre as condições de vida e saúde da população LGBTQIA+. A ausência de questões como sexualidade e identidade de gênero em grandes pesquisas, como o censo demográfico, gera uma subnotificação sobre a realidade vivida por essa população. Organizações não-governamentais atuam para levantar dados sobre a população LGBTQIA+ em geral. Desde muito cedo pessoas trans passam por eventos estressores, que se somam às adversidades ocasionadas pelo estigma criado pela sociedade. São diversos fatores que se acumulam e agravam as condições de vida e saúde dessa população. As políticas públicas voltadas para a população trans no Brasil são recentes e ainda vêm sendo construídas para garantir o acesso e a equidade no atendimento. Está bem documentado que o preconceito, a discriminação e a violência estão diretamente ligadas ao distanciamento da população trans aos serviços de saúde e que isso incide no processo de adoecimento dessas pessoas. Observa-se que existem importantes lacunas no campo da nutrição referente ao cuidado direcionado à população trans. A criação de um guia de cuidado e atenção nutricional direcionado à população LGBTQIA+ é um marco definitivo para a inserção dessa população no cuidado em nutrição. Assim, para proporcionar um atendimento acolhedor e humanizado que atenda às suas demandas e especificidades, é essencial que nutricionistas tenham ciência das principais questões em saúde da população e o contexto em que vivem, para fornecer um cuidado nutricional adequado e seguindo os princípios do SUS.

Transexual people are more exposed to prejudice and discrimination for not conforming to the gender assigned at birth and, therefore, have their basic rights threatened. It leads them to a situation of social vulnerability, which affects in the social determination of health, in the suffering process, and illness. There is an urgent need to determine the health disparities and conditions of these people and what their health demands are. In addition, to address issues pertinent to the field of nutrition, with the purpose of encouraging new studies and providing information to contribute to the planning and directing of public programs and policies, since studies in nutrition are still very limited in Brazil. The objective of this paper is to propose a reflection on the health and living conditions of trans population in Brazil, their social vulnerabilities, their difficulties to access health services, and the challenges of nutrition in this scenario. This paper is a narrative review with the purpose of exploring the theme by reviewing governmental documents, classical texts on the issue, scientific papers found in the PubMed database, and offering a critical analysis by the author. There are several barriers which make it difficult to access and obtain data on the health and living conditions of the LGBTQIA+ population. The absence of questions about sexuality and gender identity in major surveys, as the demographic census, leads to an underreporting of the reality lived by this population. Non-governmental organizations act to collect data on the LGBTQIA+ in general. From a very young age, trans people go through stressing events, which add up to the adversities caused by the stigma created by society. There are several factors that accumulate and aggravate the health and living conditions of this population. Public policies aimed at the trans population in Brazil are recent and are still being developed to ensure access and equity in care. It is well documented that prejudice, discrimination, and violence are directly linked to the distancing of the trans population from health services and that it affects these people’s process of illness. It is observed that there are important gaps in the field of nutrition in relation to the care and attention directed to the trans population. The creation of a care guide and nutritional attention directed to the LGBTQIA+ is definitively a milestone for the insertion of this population in the field of nutrition. Thus, to provide a welcoming and humanized care that meets their demands, it is essential that nutritionists are aware of the population’s main health issues and the context in which they live. This way, they can provide adequate nutritional care, following the principals of the Brazilian Unified Health System (SUS).